- Para onde vais?
- Para casa, já não há nada aqui… – A noite estava a
apodrecer, mas para ela as ruas movimentadas deixavam-na eufórica, os bares a
berrarem música metiam-na a dançar e a caminhar seguindo o ritmo de cada batida
que a mim me parecia deixar de ressaca.
- Espera! – Eu já lhe
tinha virado as costas, e não estava à espera que viesse comigo, não fazia o
meu género e eu certamente não fazia o dela. – Também não me apetece ficar aqui, isto
é gente que vai ver o amanhecer a olhar para o mar.
Fez-me rir. Poucas mulheres me fazem rir, e poucas mulheres
trocam uma noite cheia de homens em camisas brancas, colares de ouro, carteiras
recheadas, e com a poção do amor na mão...por um misantropo.
- Onde é que vives? – Perguntou-me enquanto caminhava para me apanhar.
- Eu vivo nas estrelas.
(…)
Quando chegámos a casa ela despiu-se e foi à casa de
banho limpar-se. Eu enchi dois copos com a vodka mais refinada que tinha. Ela
também tinha traços de uma elegância tímida, e isso excitava-me. Não tinha
vergonha de ter os seios à mostra, de eu lhe poder ver os grandes lábios e a
silhueta de umas nádegas perfeitamente encaixadas na anca larga.
Ficámos a falar ininterruptamente. Desejava-a, mas temi-a ao
mesmo tempo. As mulheres respeitáveis querem sempre apossar-se da alma e eu
queria manter o que restava da minha. Sei que o facto de ser bom ouvinte me
ajudava, escutava e arrebatava-a porque gosto de me sentir do contra e contra
tudo. Ela beijou-me, talvez porque ambos já só estávamos a dizer merda. Sei que
ela me achava arrogante, e provavelmente tinha razão.
- És o homem célebre mais desconhecido que já conheci! –
Afirmava com uma voz doce. Não levei a mal.
- Talvez porque seja um homem sem grandes ambições...
(...)
Levei-a para o quarto. Foi uma boa noite.
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