Sou contra a perfeição, se é que isso existe! Risco com o “lápis
azul” tal palavra que me ousa compor o dicionário. E como ele a descreve, de
modo tão nobre e ao mesmo tempo tão redutor, perfeição é então “Aquilo que tem
qualidade máxima/ Aquilo que não tem nenhum defeito” e que aborrecido seria se
tal conceito existisse mesmo na nossa realidade! Provavelmente num mundo
perfeito as palavras seriam extintas, de tanta imperfeição que contêm e de tão
miserável uso que as reserva. Assim sendo, decerto nem sequer pisávamos o
mundo, afinal de contas surgimos do pecado e derramamo-lo por onde quer que
passamos… e perante este ciclo gigante de pensamentos abstractos o conceito de
perfeição chegava nem a surgir, e de facto o significado dela seria equivalente
aquele que lhe atribuo, é apenas e somente nada, sem qualquer tipo de valor!
Só o facto de acharmos que a perfeição existe, fere
inegavelmente o nosso narcisismo, que tanto gostamos de preservar, porque se
por um lado existe o perfeito, por outro lado o imperfeito também é algo
aceitavelmente real. Então isso quer dizer que afinal não somos os melhores? O
que para uns retira-lhes o orgulho para outros dá-lhes uma meta, que
lamentavelmente é inatingível. E nós, que nos esforçamos para escapar da
infimidade que somos, criamos então termos tão elaborados e subjectivos que não
têm qualquer cabimento.
Por outro lado a crença do ser humano em que existe algo que
é totalmente puro e completo torna-o instável, exigimos sempre mais e melhor de
tudo aquilo que tivemos, tudo é alvo de uma crítica, de um pensamento
descartável que mete em causa o valor de qualquer coisa. Deixamos então de nos
contentar com aquilo que temos, e um conceito que parece ser feliz, torna-nos
desumanamente infelizes. Queremos sempre aquilo que não temos, queremos sempre
mais do que aquilo que podemos ter, e no final alcançamos uma melancolia maior
do que aquela que o destino supostamente nos tinha reservado. Por vezes
arriscamos de modo a tentar chegar a um patamar mais elevado, mas que ingratos
somos nós… com um pássaro na mão desejamos apanhar um outro, e no fim acabam
por estar os dois satiricamente a voar sobre nós, rindo-se às gargalhadas de uma
avareza que podia ser evitada.
Para além disso, garanto-vos que nem todos merecem a
perfeição! Deixem-se por favor de hipocrisias! Nem todos merecem o melhor, ou
talvez, o melhor é relativo a cada um… Não existe uma normalidade, um ideal, e
muito menos um ser perfeito!
Tranquiliza-me o facto de não existir perfeição, por um lado
porque assim a minha vida suporia um esforço maior do que aquele que eu tinha
capacidade de garantir, por outro lado, nenhum de vocês pode se quer causar
inveja com a sua grande conquista!
E esta nossa busca para a perfeição, surge também muitas
vezes pela ridícula tendência que temos em compararmo-nos uns aos outros.
Queremos ser sempre os melhores.
Enquanto eu sonho em ser apenas “eu”, e para mim a pessoa “perfeita”
é aquela que me aceita tal e qual como sou. A perfeição tem o grande defeito de
ser aborrecido. E deixem se de termos ilusórios, o “perfeito” não vive sem
defeitos, apenas os transforma.
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