Por Detrás Da Chuva Que Bate Na Janela

Como adoro o aconchego da manta que me aquenta o inverno, enquanto ,deitado de olhos fechados, oiço atentamente a chuva fria que bate agitada na janela. E ali exijo de mim mesmo uma tentativa de sensações nostálgicas, reflicto e relembro um passado não tão distante porque sempre me acompanha e torno-me incapaz de o datar precisamente, contudo vivo-o sempre da mesma maneira… com valor!

Como será a minha partida, se o passado sempre me reservou uma lembrança tão boa no presente? Simpatizei sempre de uma maneira vivaça todos os dias da minha vida… ou pelo menos posso dizer que tentei. E incapaz de viajar para um futuro destinado a um vazio cruel, guio-me por um labirinto de coisas que já la vão, e como foram boas…

Tendemos sempre a valorizar a visão, o prazer estético que mais tende enganar a mente, mas não posso lamuriar porque a minha cegueira sempre jogou a meu favor, havia em tudo uma elegância interessante que parecia pedir uma análise intensiva dos pequenos detalhes que acrescentavam ainda mais harmonia ao cenário.

 Ainda sinto o cheiro, um aroma saudoso, não sei bem a quê exactamente, mas dou graças por ainda o ter como memória, estimava o ínfimo perfume que me passava por entre as narinas e as embalava num farejar intenso para guardar restos que me inspiram ainda hoje…

E o tacto, um tanto ou quanto perigoso, numa contínua busca de diferentes texturas, inocente ao toque, indefeso perante a dor de uma lixa ou de uma vidraça aguçada, e de uma curiosidade imprópria por vezes. Mas tal fonte de uma ligação mútua, uma combinação de sentidos num só sentido, e de uma pureza fascinante.

Saboreio agora o pouco que me resta de paladar, os sabores de um passado que invejo por não ser presente, adorava a comida quente que me aquecia o estômago, e nos dias de mais calor a frescura que se desfazia na boca. O sabor a nada que agora me significa tudo!

Agora resta-me o silêncio, a velhice de um fado temporal, e segui optimista nesta jornada, inspirado na musica que me toca ainda nos ouvidos…

E acredito que tudo tenha um valor… se não por que razão estaria eu ainda a sonhar contigo?
                                                                                                                                                                                                               
                                                                                                                                                                                   Santiago Dias
                                                                                                         

0 comentários:

Enviar um comentário