O eterno traz o efémero… traz a ânsia de querer mais quando
já não há nada mais a querer. O eterno que faz de ti luz sem apagão, chama que
arde sem tocar… o eterno faz dos outros carvão e de ti labareda, ou então faz
de ti carvão e dos outros carvão, porque não há fogo que dure, mesmo que lhe se
sinta calor. O eterno tira a vida dos outros com a ilusão de a dar a ti. Faz da
arte economia, e economia é sobrevivência, e viver é nada mais nada menos que
repelir constantemente para longe de nós aquilo que deseja morrer.
Só pode viver eternamente aquele que for cego aos outros,
aquele que for cego à doença, à dor, ao amor e à vida. Porque desejar o eterno,
é desejar o homicídio aos comuns mortais, e o suicídio aos suicidas. É desejar o
passageiro que não traga vento, nem chuva, nem calor, nem nébula, que não traga
nada… ou que traga apenas tudo. É desejar. Desejar e nada mais. “Eu desejo
desejar a vida toda… a vida toda não, a eternidade”.
...
(E vive “O Eterno” em busca de perfeição, e mesmo ao imortal
é lhe recusado.
“Vós que sois eterno,
deixais de ser humano. Só o humano busca perfeição. Só o humano é imperfeito.”
“Então que sou eu?”
“O eterno é o todo cativo ao nada.”
“E o humano?”
“É o nada em busca do todo”)
…
Mas a verdade é que tu não és eterno, pouco tens que dure
muito tempo. E mesmo assim pouco estimas o que dura.
Em poucos segundos aquilo que a tua efemeridade fez murchar,
pode desvanecer… em poucos segundos tudo aquilo que acreditas ser, pode morrer.
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