Quando nos encontramos entre arenito e coreana, entre oceano
e lava, espaço ou vazio… quando nos encontramos no portão de entrada para o
inferno, com o Cérbero em guarda, num tom meigo para nos fazer
entrar, num tom feroz para nos impedir de sair… Quando nos encontramos presos
num aquário, ou imóveis devido ao peso da raiva, quando nos sentimos obrigados
a deixar de ter princípios para fomentar os princípios de quem não devia de
todo ser principal… aí, talvez sejamos todos minoria. Então e se hoje não fosse
“eu” mas fosse "os outros", por mais distantes que sejam, por mais diferente o
sabor. Então e se hoje o vidro do espelho não fosse um reflexo, mas sim uma
janela para o outro lado?
Ser rico não é o sonho do pobre… e o homem desnudo, em
farrapos sujos, imundos, que carrega a doença e a dor, apenas deseja viver… ou
sobreviver. Que são conceitos tão distintos como água e fogo, e ao mesmo tempo
tão essenciais como água e fogo. A verdade é que ainda ontem vos vi a
contemplar o espelho, a exibir o corpo mesomorfo, ou a silhueta de ampulheta
enquanto se queixavam das injustiças das pontas espigadas, das unhas partidas,
do zé pequeno… Queixa-te no céu, sem saber que existe o inferno, queixa-te de
ir de elevador quando todos os dias pessoas sobem as escadas, queixa-te da
comida ser sempre a mesma, quando outras bocas só se saciam na morte. A
injustiça persegue a cegueira… a cegueira que é ignorância hoje, medo amanhã,
perda todos os dias.
Nunca tive uma árvore no meu quintal, o que fazia de mim um
jovem imensamente infeliz porque era impossível construir uma casa na árvore
sem árvores. O meu vizinho teve o mesmo azar que eu, no entanto senti que ele
nunca quis muito saber se tinha ou não uma casa na árvore. Aquilo
que ele me disse para ajudar foi “Faz um iglu de madeira!” … palavras parvas,
mas agora que penso nelas, soa-me mais sábio do que ele própria tinha noção de
soar.
O mundo só muda, no dia em que todos o realmente conhecerem.
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