Tenho medo.
E escrevo para finalmente conseguir pensar sobre aquilo que
realmente tenho medo. Embarco nestas aventuras contra a maré sem costa à vista,
sem costa no destino, sem costa nem em frente nem nas costas… embarco na
confiança de poder navegar até sempre, sem afundar, sem bater, sem naufragar e
sem naufrágios. E depois, fico a ver navios… São navios, iates, cruzeiros, e
parece que já dura há tanto que acredito já ter visto cruzeiros e caravelas. E
eu fico empoleirado numa jangada que é mais pau que madeira, e mais cana do que
pau, e mais nada do que coisa alguma. Durante tempos, acreditei que fosse eu a
arriscar, num manto de atitude e personalidade, que agora destapada, me deixa
ao descoberto, despido ao medo e vestido por ele. Os outros estão seguros,
venha a onda que vier, tempestade que vier, eu serei sempre o primeiro a ser
sugado.
Tenho medo.
Porque quando conseguir dar à costa. Salino e coberto de
areia, quantas mais forças me restarão para viver o resto? Ali já não é a
solidão que temo, já não é o risco arrojado, o esboço em papel branco, as
palavras desordenadas… ali, em terra firme vivem pequenas criaturas que se
avistam no alto e se olham de cima para baixo, sendo que o cima está mais em
baixo do que tudo… vivem pequenas criaturas que cospem nas ruas, que cospem na
agua dos rios, que cospem nos cães, que cospem nelas mesmas. Vivem criaturas
que sei que me podem magoar. E se já o mar me magoou, e se a terra o fizer
também… resta-me o céu. E o céu é de quem morre, ou de quem já morreu… e
enquanto viver!?
Enquanto viver, resta-me ter medo.
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