Da Próxima Vez, Digam-me.

Já não o vejo há 7 meses, e durante estes meses conto pelos dedos de uma única mão as vezes que trocámos mensagens… Com ela, foi exactamente igual. Sinto que de alguma maneira nos deviam preparar para a desilusão que é encarar e perceber que muitas das relações que vamos tendo ao longo desta vida são somente passageiras, e vão embora sem um abraço, um aperto de mão, um beijo…

Deviam-me ter dito que carrego em mim um coração diferente de outros tantos, também eles distintos entre si. Aconselhar-me que sentir, só com cautela, e viver, só com a ideia de que o fim das coisas boas chega assim que aterramos naquela cama aconchegada, na relva fresca do verão, no sofá ao fim do dia… Sempre nos disseram para falarmos ao mundo, mas nunca nos avisaram o quão importante é ouvir o mundo, e ele tem tanto mais para nos dizer.

Enganaram todos com a ideia de que a solidão é um existir no espectro negativo e obscuro, quando na verdade é apenas uma das demais condições humanas. Ser só, é ser. E agora que a as sementes já não germinam, a água já não sacia a sede, e a chuva já não molha, eu só quero ser.

Ele ainda me mandou mensagem numa tarde qualquer onde me pediu desculpa. Mas as pessoas não sabem encarar a desilusão e a dor que é errar. O pedido de desculpa foi a última conjunção de palavras que dele recebi. Depois de desiludir alguém, nunca ninguém procura o perdoo, procura é a liberdade relativa às grades que o sentimento de culpa constrói. E foge. 
Muitas vezes vemos pessoas de costas para nós, a caminhar em direções tão distintas às nossas, a vociferar palavrões numa linguística que mais ninguém consegue compreender, numa fuga constante ao medo, à dor, à mudança, à verdade, ao defeito, mas que na realidade procuram o mesmo que todos nós.

Provavelmente vou encontrando, algures por aí, toda esta gente que partiu. Numa rua, num bar, no cinema… Mas por favor, da próxima vez, digam-me que o licor doce tem um travo amargo passado umas horas, que caminhar quilómetros me vai causar dor nas pernas, que o chocolate dá borbulhas, que o caos leva à mudança, que dormir demais aleija na cabeça, que acordado é que devemos sonhar, que a consensualidade cansa, que ser é diferente de existir, que o conforto demais desconforta, que o amor dói.
                                                                                                                                                                                                   
                                                                                                                                                                                   Santiago Dias
                                                                                                         

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