Fluorantimônico, corrói-me. Parecem pisadelas em gelo que se desfaz em nada. Que tipo de criador sou eu, um arquiteto do vazio que se desfaz com o tempo? Como é que o tempo apaga a coisa nenhuma que sinto? Neste coração descorado que pulsa de vez em quando para me relembrar que ainda vivo.
Todos nós nascemos a meio do filme, e tendemos a acreditar
que o passado foi melhor que o presente, e que o presente, mesmo mau, é melhor que o futuro
que se avizinha. Reporto-me a uma idade de ouro que nunca existiu… Este meu
modo burlesco de acreditar que já fui mais do que sou agora…
Talvez o tenha sido quando o azul do oceano não me parecia
ser o reflexo do céu. Agora que sei mais do que sabia, tendo a conter-me no
silêncio. Sou um bom ouvinte daquilo que me suscita interesse. E mesmo com este
espetro enorme de meios de comunicação, temos muito pouco para dizer uns aos
outros…
Tenho algo preso na garganta, um caroço que não consigo
engolir, um arroto preso, um amontoado de palavras para cuspir, uma angústia
que me enrolha a abertura do funil… e mesmo que exista uma falange de
opositores ao vento, continuo a admirá-lo. Mais do que nunca.
O vento faz mexer as folhas da árvore. Receio a inexistência do vento, como receio o coração inerte, a respiração preguiçosa… O vento pelo menos indica-me que o mundo ainda está vivo.
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