Professor P.

Acorda de boxers no sofá
Lenços de papel embrulhados
E a pornografia ainda a dar.
Acende o charro que deixou enrolado
Engole a resto morto da cerveja em lata
O despertador toca a ditar a hora de estar levantado.
Veste as calças pousadas na cadeira
Desliga a televisão e fica ansioso por causa do silêncio
Liga o rádio em altos berros só para a barulheira.
Abotoa a camisa em tom apressado
Vai buscar a pasta com os trabalhos por corrigir
Deixa as cinzas caírem na mesa.
Entra no carro e começa a conduzir...

Ressacado e preso no transito
Já grita em plenos pulmões
Olhar sonâmbulo e voz de pânico
Uma mão ao volante e outra nos colhões.
Tira um cancro fumegante do maço
Coloca os óculos de sol no dia enublado
Acelera prego a fundo... Apressa o passo

Deixa-se ficar mudo carrancudo
Enquanto os alunos entram na sua sala
Ri-se da dor dos putos ansiosos
“Os testes estão na sua mala?”
Ordena silêncio a pedido da dor de cabeça
Conta os minutos para que a aula chegue ao fim
Senta-se na cadeira almofadada de pernas em cima da mesa
E lê umas merdas sobre Josef Stalin...

O toque de saída soa demasiado alto
Sobressaltado manda todos para a rua, excepto a Madalena
Rapariga pacata... Aluna desatenta
Ela desata a chorar... lágrimas cruéis para uma menina tão pequena
“A menina Madalena passou a aula toda a falar!”
Diz ele num tom divertido e com um sorriso no rosto
Enquanto desaperta o cinto e começa-lhe a tocar
O braço negro da rapariga dizia-lhe para não fugir de novo
Humilhada fechou os olhos e perdeu as forças
E o seu corpo caído deseja adormecer agora no chão
Já despida ele sussurra-lhe ao ouvido
“Não faças barulho e assim haverá perdão”
Passa a língua pelos lábios e lança um olhar penetrante
Tapa a boca da miúda enquanto lhe conduz a mão...

...Abotoa as calças e a camisa
Limpa-lhe a cara com a mão suada
“Vá já podes ir” em tom rancoroso
“Sabes que a menina tinha de ser castigada”
Ela corre em direcção à casa de banho
Lava as mãos com água e sabão
Limpa a baba e ranho
Tenta parar de chorar e liga à mãe a dizer que está doente
Em casa já sozinha procura fugir ao corpo que não sente
Busca escapar à dor que começa a enjoar
Toma 12 comprimidos de forma repentina
E o corpo caído no chão acabou de se matar...                                                                                                                                                                                                         

                                                                                                                                                                                   Ricardo Queirós
                                                                                                         

0 comentários:

Enviar um comentário