A sujidade percorre o meu corpo nu
Sinto-me indigno da vida
Quem sou eu para possuir tal privilégio
Tornar-me-ei um insólito com uma enorme divida
Cobiço o desfrutar de todo o segundo
Contudo temo a imperfeição, a incapacidade de gozo
Desejo então ser alguém no mundo
Mas penetro-me em pensamentos que me afastam
Indesejável, espirito imundo.
Revejo os pecados
dos outros
Nas minhas
pequenas acções
Recuo aterrorizado de forma humilde
Encolho-me perante a penumbra sem aparentes razões
Nenhum de nós merece esta dádiva
Afinal de tudo não passamos de uns chorões
Nada nem ninguém é suficiente
E antes de morrermos de corpo
Já jaz bem antes a nossa terna mente
Afinal de tudo temos de aprender a viver com as falhas
E evitar repetir os erros
Por um lado recuarmos perante a ignorância
E por outro sermos capazes de destruir muralhas
Filtro as emoções que não me permitem viver
Com toda a beleza que me escapou
Choro agora com medo de morrer
Reflicto no outro que falhou
No pensamento do alheio
Perdido na resposta de quem de facto sou
E há procura dum novo meio
Acontece-me por vezes parar de agir
De modo a evitar a imperfeição de outrem
Torno-me cego, surdo, mudo
Encolho-me e converto-me em ninguém
É cruel! Mas para quê repetir os defeitos?
No entanto tirem a ideia de serem os mais puros
Aceitem de uma vez por todas que somos todos imperfeitos
As cicatrizes no meu corpo das vossas acções jamais sararão
Tornam-se então lembranças daquilo que não devo ser nem
fazer
Então e o que serei eu, perante toda esta nudez?
A resposta é fácil…
Posso ser tudo excepto igual a vocês! 
Ricardo Queirós
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