Delírio.Morte

-SOLTEM-NO!

Expulsaram-me do isolamento que me atraía
Que castigo cruel para quem odeia esta multidão
Ruído, lixo, sujeira… imenso tanto numa vazia nação
Longe da liberdade que me iluminava o sonho
Nunca vivi, não quero viver… que destino medonho
Deambular no reflexo de toda a escuridão que componho

Prisioneiro sensato. Cego nas trevas das grades inexistentes
De olhos fechados via muito mais do que qualquer um de vocês
Torturado ao ponto de temer a liberdade que acreditava existir
Creio que ver, depois de tanto tempo, me deu ainda mais vontade de desistir

Não tentem decifrar a visão de quem vê infinitos
Não tentem compreender o discurso de quem é mudo
Nem as atitudes de quem não é, mas precisa de ser…

Que loucura que vivo agora que fui libertado onde não há liberdade
Nesta cela extensa na qual nos enclausuraram
Fruto da realidade que me conforta as noites obscuras
E que melancoliza os dias graciosos…
Porque fui e sempre serei prisioneiro
Da verdade que sou e que me venda os sentidos
E prefiro a solidão de onde me tiraram
Do que vos ver somente como espíritos perdidos

Deixaram de ser ouvidas as vozes afónicas que ditam os destinos azarados
E no meio de tanto barulho predomina o mais triste silêncio
Que mundo de mentes encadeadas e corpos calcados.
Corro e percorro precipícios de uma profunda escuridão
Cadáveres que não sabem o que foram nem o que são no meio deste enorme apagão

Exausto arranco o que me resta do coração
Elimino a alma num desespero obsessivo
Arranco os olhos numa mancheia de quem perdeu cruelmente...
Corto os ouvidos em sangue no corpo, evitando o berro agressivo
E enforco-me nas mãos que me laçam como uma corda que me esfola
Delírio! Demente, alucinado escolhi o caminho da liberdade que me leva ao fim
Morte! Abram-me as portas do inferno, onde tudo é mais puro do que de onde vim!                                                                                                                                                                                                         
                                                                                                                                                                                   Ricardo Queirós
                                                                                                         

1 comentário:

  1. Gostei deste escrito que li, são de facto versos de qualidade!
    Se quiseres passa no meu blog e dá o respetivo feedback

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